Resumo
O questionamento da minha filha Maria Luiza, aos 9 anos de idade (2022), despertou aos ensinamentos herdados pelo brasileiro Florestan Fernandes (1920 – 1995), considerado como o pai da sociologia crítica no país. O paulista, de origem pobre e alma humilde, teve despertadas percepções e reflexões que, ao longo da sua vida, resultaram em diversos trabalhos a respeito das preocupações com as transformações sociais, deixando-nos legados preciosos à formação humana integral e emancipatória.
Como referencial no Brasil de inteligência e intelectualidade, seus pensamentos quanto à educação vão ao encontro dos do filósofo italiano Antônio Gramsci (1891 – 1937) considerando que cada um, no seu tempo e
espaço, contribuiu com suas inquietações e produções acerca de questões sociais e as possibilidades que consideravam capazes de mudar os caminhos pelos quais a humanidade poderia trilhar.
Este artigo buscou perquirir a formação, a atuação e a atualização do sociólogo brasileiro considerando a realidade da atual educação nacional à luz dos legados destes dois grandes pensadores.
Introdução
A fase dos porquês por que todas – ou, pelo menos, a maioria – das crianças passam é desafiadora aos pais e responsáveis. Inicia-se, geralmente, aos três anos de idade e pode perdurar por muito tempo, propondo a elas aprofundar nas curiosidades sobre a própria criança e sobre o mundo ao seu redor.
Recordar de todas as perguntas da minha filha Maria Luiza seria uma viagem em diversas áreas de ensino como se fosse os continentes ao redor do mundo. No entanto, com o passar dos anos, organizar algumas das respostas mais adequadas à sua compreensão, é como tentar responder noutro idioma pouco conhecido com coerência e coesão.
Quando perguntou “- por que o nome de vaso (sanitário) é vaso?”; “- porque o universo é negro mas o céu é azul?”; “- como o bebê entra na barriga das mães?”; (entre outras), as respostas eram sempre conduzidas de forma simples, prática e adequadas à sua idade.
No entanto, quando ela questionou sobre se um ‘perguntador’ seria inteligente ou intelectual, foi inevitável não interpretar a dúvida como sendo ela a ‘perguntadora’. Segundo Maria Luiza, na escola, ao fazer muitas perguntas, a professora teria dito que ela era inteligente. “- Mas se fosse inteligente, não precisaria perguntar”, teria retrucado à professora.
O fato é que, ao explicar, embora possam ser sinônimos, os adjetivos revelam que uma pessoa inteligente tem uma maior habilidade de compreender os pensamentos e conhecimentos prontos e, uma pessoa intelectual é, além de inteligente, capaz de analisar e reproduzir pensamentos e conhecimentos. Logo, uma pessoa que faz muitas perguntas (‘perguntador’, como ela se referiu), é uma pessoa interessada pelo conhecimento e pode ser inteligente e intelectual: a própria Maria Luiza concluiu. Esta, entre outras experiências, deixa-me confortável em afirmar o quanto é inquestionável e o quanto uma mãe pode aprender com uma filha…
Autora:
Pedagoga, especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica; em Ensino Aprendizagem de Língua Portuguesa e Literaturas e em Docência no Ensino Superior.
Agora em vários idiomas
- Categorias: Antonio Gramsci, Educação, Florestan Fernandes, Intelectuais, Inteligencia, Livros